Autismo
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O
autismo é uma disfunção global do desenvolvimento. É uma alteração que afeta a capacidade de
comunicação do indivíduo, de socialização (estabelecer
relacionamentos) e de comportamento (responder apropriadamente ao
ambiente — segundo as normas que regulam essas respostas). Esta desordem faz parte de um grupo de síndromes chamado
transtorno global do desenvolvimento (TGD), também conhecido como
transtorno invasivo do desenvolvimento (TID), do inglês
pervasive developmental disorder (PDD).
Entretanto, neste contexto, a tradução correta de "pervasive" é
"abrangente" ou "global", e não "penetrante" ou "invasivo". Mais
recentemente cunhou-se o termo
Transtorno do Espectro Autista (TEA) para englobar o Autismo, a Síndrome de Asperger e o Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação.
1
Algumas crianças, apesar de autistas, apresentam
inteligência e
fala
intactas, outras apresentam sérios problemas no desenvolvimento da
linguagem. Alguns parecem fechados e distantes, outros presos a rígidos e
restritos padrões de comportamento. Os diversos modos de manifestação
do autismo também são designados de
espectro autista, indicando
uma gama de possibilidades dos sintomas do autismo. Atualmente já há a
possibilidade de detectar a síndrome antes dos dois anos de idade em
muitos casos.
2
Certos adultos com autismo são capazes de ter sucesso na carreira
profissional. Porém, os problemas de comunicação e socialização causam,
frequentemente, dificuldades em muitas áreas da vida. Adultos com
autismo continuarão a precisar de encorajamento e apoio moral na sua
luta para uma vida independente. Pais de autistas devem procurar
programas para jovens adultos autistas bem antes dos seus filhos
terminarem a escola. [Dica]: Caso conheça outros pais de adultos com
autismo, pergunte sobre os serviços disponíveis.
O autismo afeta, em média, uma em cada 88 crianças nascidas nos
Estados Unidos, segundo o CDC (sigla em inglês para
Centro de Controlo e Prevenção de Doenças), do governo daquele país, com números de
2008, divulgados em março de
2012.
3 -- no Brasil, porém, ainda não há estatísticas a respeito do TEA
4 . Em
2010, no
Dia Mundial de Conscientização do Autismo,
2 de abril, a
ONU
declarou que, segundo especialistas, acredita-se que a doença atinja
cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo, afetando a maneira como
esses indivíduos se comunicam e interagem.
5 6
O aumento dos números de prevalência de autismo levanta uma discussão
importante sobre haver ou não uma epidemia da síndrome no planeta, ainda
em discussão pela comunidade científica
7 . No Brasil, foi realizado o primeio estudo de epidemiologia de autismo da América Latina
8 9 , publicado em fevereiro de 2011—com dados de 2010 --, liderado pelo psiquiatra da infância
Marcos Tomanik Mercadante (1960-2011), num projeto-piloto com amostragem na cidade
paulista de
Atibaia10 , aferiu a prevalência de um caso de autismo para cada 368 crianças de 7 a 12 anos
8 9 . Outros estudos estão em andamento no Brasil.
Um dos mitos comuns sobre o autismo é de que pessoas autistas vivem
em seu mundo próprio, interagindo com o ambiente que criam; isto não é
verdade
11
. Se, por exemplo, uma criança autista fica isolada em seu canto
observando as outras crianças brincarem, não é porque ela
necessariamente está desinteressada nessas
brincadeiras
ou porque vive em seu mundo. Pode ser que essa criança simplesmente
tenha dificuldade de iniciar, manter e terminar adequadamente uma
conversa, muitos cientistas atribuem esta dificuldade à
Cegueira Mental12 , uma compreensão decorrente dos estudos sobre a
Teoria da Mente.
Outro mito comum é de que quando se fala em uma pessoa autista
geralmente se pensa em uma pessoa retardada ou que sabe poucas palavras
(ou até mesmo que não sabe alguma). Problemas na inteligência geral ou
no desenvolvimento de linguagem, em alguns casos, pode realmente estar
presente, mas como dito acima nem todos são assim. Às vezes é difícil
definir se uma pessoa tem um déficit intelectivo se ela nunca teve
oportunidades de interagir com outras pessoas ou com o ambiente. Na
verdade, alguns indivíduos com autismo possuem inteligência acima da
média.
A ciência, pela primeira vez falou em cura do autismo em novembro de
2010, com a descoberta de um grupo de cientistas nos EUA, liderado pelo
pesquisador brasileiro
Alysson Muotri, na Universidade da Califórnia, que conseguiu "curar" um neurônio "autista" em laboratório. O estudo, que baseou-se na
Síndrome de Rett (um tipo de autismo com maior comprometimento e com comprovada causa genética)
13 , foi coordenado por mais dois brasileiros, Cassiano Carromeu e Carol Marchetto e foi publicado na revista científica
Cell.
14 15
Histórico
Foi descrito pela primeira vez em
1943, pelo médico
austríaco Leo Kanner, trabalhando no
Johns Hopkins Hospital, em seu artigo
Autistic disturbance of affective contact, na revista
Nervous Child, vol. 2, p. 217-250. No mesmo ano, o também austríaco
Hans Asperger descreveu, em sua tese de doutorado, a
psicopatia autista da infância. Embora ambos fossem austríacos, devido à
Segunda Guerra Mundial não se conheciam .
A palavra "autismo" foi criada por Eugene Bleuler, em
1911, para descrever um sintoma da
esquizofrenia,
que definiu como sendo uma "fuga da realidade". Kanner e Asperger
usaram a palavra para dar nome aos sintomas que observavam em seus
pacientes.
O trabalho de Asperger só veio a se tornar conhecido nos anos
1970, quando a médica
inglesa Lorna Wing traduziu seu trabalho para o
inglês. Foi a partir daí que um tipo de autismo de alto desempenho passou a ser denominado
síndrome de Asperger.
Nos
anos 1950 e
1960, o psicólogo
Bruno Bettelheim afirmou que a causa do autismo seria a indiferença da mãe, que denominou de "
mãe-geladeira".
Nos anos 1970 essa teoria foi rejeitada e passou-se a pesquisar as
causas do autismo. Hoje, sabe-se que o autismo está ligado a causas
genéticas associadas a causas ambientais. Dentre possíveis causas ambientais, a contaminação por metais pesados, como o
mercúrio e o
Chumbo, têm sido apontada como forte candidatos, assim como problemas na
gestação. Outros problemas, como uso de
drogas na gravidez ou infecções nesse período, também devem ser considerados.
Apesar do grande número de pesquisas e investigações clínicas
realizadas em diferentes áreas e abordagens de trabalho, não se pode
dizer que o autismo é um transtorno claramente definido. Há correntes
teóricas que apontam as alterações comportamentais nos primeiros anos de
vida (normalmente até os 3 anos) como relevantes para definir o
transtorno, mas hoje se tem fortes indicações de que o autismo seja um
transtorno orgânico. Apesar disso, intervenções intensivas e precoces
são capazes de melhorar os sintomas.
Em
18 de Dezembro de
2007, a
Organização das Nações Unidas decretou todo
2 de abril como o
Dia Mundial do Autismo.
16 Em
2008 houve a primeira comemoração da data pela ONU.
17
Em novembro de
2010, a ciência, falou pela primeira vez em cura do autismo, com a publicação na revista científica
Cell14 15 da descoberta de um grupo de cientistas nos EUA, liderado pelo pesquisador brasileiro
Alysson Muotri, na Universidade da Califórnia, que conseguiu "curar" um neurônio "autista" em laboratório. O estudo, que baseou-se na
Síndrome de Rett (um tipo de autismo com maior comprometimento e com comprovada causa genética)
13 .
Definição
Interesses restritos e repetitivos, como empilhar objetos, são comuns em
crianças com autismo. Caso eles sejam focalizados para uma atividade
útil socialmente podem ajudar no desenvolvimento de habilidades
excepcionais.
18
O autismo é um transtorno definido por alterações presentes antes dos
três anos de idade e que se caracteriza por alterações qualitativas na
comunicação, na interação social e no uso da imaginação.
O autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta de
maneira grave por toda a vida. É incapacitante e aparece tipicamente
nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de 20 entre cada 10 mil
nascidos e é quatro vezes mais comum no sexo masculino do que no
feminino. É encontrado em todo o mundo e em famílias de qualquer
configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu até agora provar
qualquer causa psicológica no meio ambiente dessas crianças que possa
causar a doença.
Segundo a ASA - Autism Society of American (em
português:
Associação Americana de Autismo), os sintomas são causados por
disfunções físicas do cérebro, verificados pela anamnese ou presentes no
exame ou entrevista com o indivíduo. Incluem
19 :
- Distúrbios no ritmo de aparecimentos de habilidades físicas, sociais e lingüísticas.
- Reações anormais às sensações. As funções ou áreas mais afetadas
são: visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gustação e maneira
de manter o corpo.
- Fala e linguagem ausentes ou atrasadas. Certas áreas específicas do
pensar, presentes ou não. Ritmo imaturo da fala, restrita compreensão de
ideias. Uso de palavras sem associação com o significado.
- Relacionamento anormal com os objetivos, eventos e pessoas.
Respostas não apropriadas a adultos e crianças. Objetos e brinquedos não
usados de maneira devida.
- Definição do DSM-IV-TR (2002)
O Transtorno Autista consiste na presença de um desenvolvimento
comprometido ou acentuadamente anormal da interação social e da
comunicação e um repertório muito restrito de atividades e interesses.
As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível
de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo.
- Definição da CID-10 (2000)
Autismo infantil: Transtorno global do desenvolvimento caracterizado por:
- a) um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade de três anos;
- b) apresentando uma perturbação característica do funcionamento em
cada um dos três domínios seguintes: interações sociais, comunicação,
comportamento focalizado e repetitivo. Além disso, o transtorno se
acompanha comumente de numerosas outras manifestações inespecíficas, por
exemplo: fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade(auto-agressividade).
Características do autismo
Existem muitos graus de autismo, mas quanto mais cedo a criança for
identificada e começar o treinamento de habilidades sociais, melhor será
seu desenvolvimento.
Segundo a ASA (Autism Society of American), indivíduos com autismo
usualmente exibem pelo menos metade das características listadas a
seguir:
- Dificuldade de relacionamento com outras pessoas
- Riso inapropriado
- Pouco ou nenhum contato visual - não olha nos olhos
- Aparente insensibilidade à dor - não responde adequadamente a uma situação de dor
- Preferência pela solidão; modos arredios - busca o isolamento e não procura outras crianças
- Rotação de objetos - brinca de forma inadequada ou bizarra com os mais variados objetos
- Inapropriada fixação em objetos
- Perceptível hiperatividade ou extrema inatividade - muitos têm problemas de sono ou excesso de passividade
- Ausência de resposta aos métodos normais de ensino - muitos precisam de material adaptado
- Insistência em repetição, resistência à mudança de rotina
- Não tem real medo do perigo (consciência de situações que envolvam perigo)
- Procedimento com poses bizarras (fixar objeto ficando de
cócoras; colocar-se de pé numa perna só; impedir a passagem por uma
porta, somente liberando-a após tocar de uma determinada maneira os
alisares)
- Ecolalia (repete palavras ou frases em lugar da linguagem normal)
- Recusa colo ou afagos - bebês preferem ficar no chão que no colo
- Age como se estivesse surdo - não responde pelo nome
- Dificuldade em expressar necessidades - sem ou limitada linguagem oral e/ou corporal (gestos)
- Acessos de raiva - demonstra extrema aflição sem razão aparente
- Irregular habilidade motora - pode não querer chutar uma bola, mas pode arrumar blocos
- Desorganização sensorial - hipo ou hipersensibilidade, por exemplo, auditiva
- Não faz referência social - entra num lugar desconhecido sem antes olhar para o adulto (pai/mãe) para fazer referência antes e saber se é seguro
Observação: É relevante salientar que nem todos os indivíduos
com autismo apresentam todos estes sintomas, porém muitos dos sintomas
está presente entre os 12 e os 24 meses da criança. Eles variam de leve a
grave e em intensidade de sintoma para sintoma, pois o autismo se
manifesta de forma única em cada pessoa. Adicionalmente, as alterações
dos sintomas ocorrem em diferentes situações e são inapropriadas para
sua idade.
Vale salientar também que a ocorrência desses sintomas não é
determinista no diagnóstico do autismo. Para tal, se faz necessário
acompanhamento com psicólogo, psiquiatra da infância ou neuropediatra.
20
Diagnóstico
Os sistemas diagnósticos (DSM-IV e CID-10) têm baseado seus critérios
em problemas apresentados em três áreas, com início antes dos três anos
de idade, que são:
a) comprometimento na
interação social;
b) comprometimento na
comunicação verbal e não-verbal, e no brinquedo imaginativo;
c)
comportamento e interesses restritos e repetitivos.
É relevante salientar que essas informações devem ser utilizadas
apenas como referência. Além de destacar a importância do diagnóstico
precoce "porque quanto mais cedo é identificado um transtorno, mais
rápido o curso normal do desenvolvimento pode ser retomado. Porém os
resultados dependem não somente da identificação dos atrasos e da
indicação dos tratamentos adequados e eficazes, mas da aceitação dessa
condição diferenciada pelas famílias e pelo futuro de cada um, que não
dominamos nem sabemos", como explica o psiquiatra da infância e
adolescência Walter Camargos Jr.
21
Recomenda-se caracterizar a queixa da família: sinais, sintomas,
comportamento, nível de desenvolvimento cognitivo e escolar do indivíduo
- quando for o caso, relacionamento inter-pessoal, investigar os
antecedentes gineco-obstétricos, história médica pregressa, história
familiar de doenças neurológicas, psiquiátricas ou genéticas, analisar
os critérios do DSM-IV-TR ou da CID-10, realizar avaliações
complementares (investigações bioquímicas, genéticas, neurológicas,
psicológicas, pedagógicas, fonoaudiológicas, fisioterápicas), pensar a
respeito do diagnóstico diferencial, investigar a presença de
comorbidades, classificar o transtorno, planejar e efetivar o
tratamento.
Muitas vezes, o autismo é confundido com outras síndromes ou com
outros transtornos globais do desenvolvimento, pelo fato de não ser
diagnosticado através de exames laboratoriais ou de imagem, por não
haver marcador biológico que o caracterize, nem necessariamente aspectos
sindrômicos morfológicos específicos; seu processo de reconhecimento é
dificultado, o que posterga a sua identificação.
Um diagnóstico preciso deve ser realizado, por um profissional
qualificado, baseado no comportamento, anamnese e observação clínica do
indivíduo.
O autismo pode ocorrer isoladamente, ser secundário ou apresentar
condições associadas, razão pela qual é extremamente importante a
identificação de comorbidades bioquímicas, genéticas, neurológicas,
psiquiátricas, entre outras.
Condições que podem estar associadas ao Autismo: Acessos de
raiva, agitação, agressividade, auto-agressão, auto-lesão (bater a
cabeça, morder os dedos, as mãos ou os pulsos), ausência de medo em
resposta a perigos reais, catatonia, complicações pré, peri e
pós-natais, comportamentos autodestrutivos, déficits de atenção,
déficits auditivos, déficits na percepção e controle motor, déficits
visuais, epilepsia , esquizofrenia, hidrocefalia, hiperatividade,
impulsividade, irritabilidade, macrocefalia, microcefalia, mutismo
seletivo, paralisia cerebral, respostas alteradas a estímulos sensoriais
(alto limiar doloroso, hipersensibilidade aos sons ou ao toque, reações
exageradas à luz ou a odores, fascinação com certos estímulos), retardo
mental, temor excessivo em resposta a objetos inofensivos, transtornos
de alimentação (limitação a comer poucos alimentos), transtornos de
ansiedade, transtornos de linguagem, transtorno de movimento
estereotipado, transtornos de tique, transtornos do humor/afetivos
(risadinhas ou choro imotivados, uma aparente ausência de reação
emocional), transtornos do sono (despertares noturnos com balanço do
corpo).
Síndromes Cromossômicas ou Genéticas: Acidose láctica,
Albinismo oculocutâneo, Amaurose de Leber, Desordem marfan-like,
Distrofia muscular de Duchenne, Esclerose Tuberosa, Fenilcetonúria,
Galactosemia ,Hipomelanose de Ito, Histidinemia, Neurofibromatose tipo
I, Seqüência de Moebius, Síndrome de Angelman ,Síndrome de Bourneville ,
Síndrome da Cornélia de Lange ,Síndrome de Down, Síndrome fetal
alcóolica, Síndrome de Goldenhar, Síndrome de Hurler, Síndrome de
Joubert, Síndrome de Laurence-Moon-Biedl, Síndrome de Landau-Kleffner,
Síndrome de Noonan, Síndrome de Prader-Willi, Síndrome da Talidomida,
Síndrome de Tourette, Síndrome de Sotos, Síndrome do X-frágil,Síndrome de Williams
Infecções associadas ao Autismo: Caxumba,Citomegalovírus,Herpes,Pneumonia,Rubéola, Sarampo, Sífilis,Toxoplasmose e Varicela
O diagnóstico do transtorno autista é clínico e não poderá, portanto,
ser feito puramente com base em testes e ou escalas de avaliação.
Avaliações de ordem psicológica, fonoaudiológica e pedagógica são importantes para uma avaliação global do indivíduo.
Recomenda-se utilizar um instrumento de avaliação adicional para
identificar a presença de Retardo Mental (RM). Na maioria dos casos de
autismo (70% a 85%), existe um diagnóstico associado de RM que pode
variar de leve a profundo.
A incidência de epilepsia nos indivíduos com autismo varia de 11% a 42%.
Convulsões podem desenvolver-se, particularmente, na adolescência.
Exames
O diagnóstico do autismo é feito clinicamente, mas pode ser
necessário a realização de exames auditivos com a finalidade de um
diagnóstico diferencial.
Outros exames devem ser considerados não para diagnóstico, mas com a
finalidade de se realizar um bom tratamento. São eles: ácidos orgânicos,
alergias alimentares, metais no cabelo, perfil ION, imunodeficiências,
entre outros.
Dia Mundial do Autismo
Em
2011, no
Dia Mundial da Conscientização do Autismo, todo
2 de abril, conforme decretado pela
ONU em dezembro de
200722 , a revista tornou-se a página oficial do evento
23
no país, reunindo informação de ações de entidades e de pequenos grupos
de pessoas em todo o Brasil, em prol da divulgação de informações sobre
autismo na luta por mais direitos e menos preconceito
24 . As ações brasileiras para a data conseguiram inclusive iluminar grandes monumentos de azul (cor símbolo do autismo), como o
Cristo Redentor, no
Rio de Janeiro25 , a
Ponte Estaiada em
São Paulo26 , os prédios do
Senado Federal e do
Ministério da Saúde em
Brasília27 , o
Teatro Amazonas em
Manaus28 , entre muitos outros.
Relato
O médico
José Salomão Schwartzman, referência no Brasil em
Neurologia da Infância e Adolescência, relata um caso interessante de autismo:
"Na década de 1970, recebi um paciente, R., com cinco anos de
idade, encaminhado por uma amiga psicóloga. Era uma criança estranha,
que tinha sido considerada, até pouco tempo antes, como portadora de
deficiência mental. Muito embora tivesse apresentado desenvolvimento
motor normal, a sua fala e seu comportamento se mostravam muito
alterados.
Sua mãe relatava que ele havia ficado totalmente mudo até os 3, 4
anos de idade, quando, de um dia para outro, havia começado a ler
manchetes dos jornais.
Embora pudesse falar a partir de então,
somente o fazia quando queria e quase nunca com a finalidade de se
comunicar com os outros. Era isolado e parecia bastar-se, ignorando as
pessoas que viviam à sua volta. Por outro lado, era muito inquieto e
agitado, estando continuamente em movimento. Uma das poucas atividades que o deixavam mais tranquilo era ficar parado em uma das esquinas mais movimentadas de São Paulo
observando os ônibus que passavam. Após uma hora de observação,
demonstrava estar satisfeito. Chegando em casa, desenhava todos os
ônibus que havia observado, com as cores e as placas corretas.
Reencontrei R. recentemente. É um adulto estranho; não gosta de fixar
o olhar no interlocutor; fala de um modo bastante formal. Ao entrar no
meu consultório, após todos esses anos, perguntou-me sobre o meu
primeiro consultório e demonstrou lembrar-se de inúmeros detalhes de
consultas ocorridas há cerca de 30 anos. Contou-me que, quando criança,
haviam dito que ele era autista, imagine! Estava muito bem e ganhava o
seu dinheiro fazendo ilustrações para cadernos pedagógicos de algumas
escolas.
Na ocasião, o caso me pareceu singular na medida em que aquela
criança, tida como deficiente mental, era seguramente diferente em
vários aspectos de outras crianças com
deficiência mental.
A
equipe que atendia R. achou que a melhor hipótese diagnóstica era a de
Autismo, condição muito pouco conhecida e de diagnóstico muito difícil
àquela época. O quadro, assim diagnosticado, passou a ser da alçada de
psiquiatras e psicólogos. Para mim, então, tratava-se de uma patologia
que não envolvia problemas relacionados a funções do sistema nervoso. Os
tempos mudaram, e hoje sabemos que o Autismo é uma condição de bases
biológicas e bem mais freqüente do que se acreditava. Há, na verdade,
quem cite números muito maiores, o que decorre não somente de um maior
conhecimento a respeito do assunto e, portanto, de uma identificação
mais freqüente, mas também de um conceito que tem se expandido nos
últimos anos, permitindo que quadros que anteriormente não receberiam
este diagnóstico possam ser assim rotulados."29
Tratamentos do Autismo
Existem diversas abordagens de tratamentos para o autismo, mas é um
consenso entre elas que é importante a participação da família no
tratamento independente da abordagem.
30
Criança autista aprendendo a reconhecer animais. A terapia com animais é
uma forma de levar a criança autista a reconhecer que outros seres
vivos tem suas próprias reações e requerem compreensão, atenção e afeto.
31
Mães das crianças com autismo apresentam estresse e depressão
significativamente mais elevados, além de intimidade marital menor do
que as mães de crianças com desenvolvimento típico.
30 32
A
equoterapia
ajuda na percepção do outro e no desenvolvimento de jogo social,
mímica, postura corporal e gestos para iniciar e modular a interação com
outro ser vivo.
33 .
O tratamento do autismo vai depender da gravidade do déficit social,
de linguagem e comportamental que o indivíduo se encontra. Existem
diversas abordagens, algumas muito melhor embasadas cientificamente que
outras. Pais insatisfeitos com os resultados
Em crianças pequenas, a prioridade do tratamento normalmente é o desenvolvimento da fala, da interação social/linguagem,
educação especial
e suporte familiar. Já com adolescentes, o tratamento é voltado para o
desenvolvimento de habilidades sociais necessários para uma boa
adaptação, desenvolvimento de habilidades profissionais (
terapia ocupacional)
e terapia para desenvolvimento de uma sexualidade saudável. Com
adultos, o foco está no desenvolvimento da autonomia, ensino de regras
para uma boa convivência social e manutenção das habilidades aprendidas.
30
De um modo geral o tratamento tem 4 objetivos
30 :
- Estimular o desenvolvimento social e comunicativo;
- Aprimorar o aprendizado e a capacidade de solucionar problemas;
- Diminuir comportamentos que interferem com o aprendizado e com o acesso às oportunidades de experiências do cotidiano; e
- Ajudar as famílias a lidarem com o autismo.
Os indivíduos com autismo têm uma expectativa de longevidade normal,
porém sua agressividade, dificuldade de pedir ajuda e dificuldade em
obedecer regras podem ser perigosos. Algumas formas de autismo grave
exigem acompanhamento pelo resto da vida para evitar situações de risco.
O autismo é um transtorno que nunca desaparece completamente, porém
com os cuidados adequados o indivíduo se torna cada vez mais adaptado
socialmente. Intervenções apropriadas iniciadas precocemente podem fazer
com que alguns indivíduos melhorem de tal forma que os traços
autísticos ficam imperceptíveis para aqueles que não conheceram a
trajetória desenvolvimental desses indivíduos. O diagnóstico precoce do
autismo permite a indicação antecipada de tratamento.
30
Um tratamento adequado deve levar em consideração as
comorbidades
(ou seja, outros transtornos associados a cada caso) para a realização
de atendimento apropriado em função das características particulares do
indivíduo. Exemplos de comorbidades incluem
Transtorno obsessivo-compulsivo e
problemas de aprendizagem.
A terapêutica pressupõe uma equipe multi e interdisciplinar – tratamento médico (
pediatria e
psiquiatria) e tratamento não-médico (
psicologia,
fonoaudiologia,
pedagogia e
terapia ocupacional), profissionalizante e inclusão social, uma vez que a intervenção apropriada resulta em considerável melhora no prognóstico.
O sucesso do tratamento depende não só do empenho e qualificação dos
profissionais que se dedicam ao atendimento destes indivíduos, como
também dos estímulos feitos pelos cuidadores no ambiente familiar.
Quanto mais os cuidadores souberem sobre o tratamento do autismo, melhor
para o desenvolvimento global da criança. Dentre os fatores mais
importantes para o
prognóstico
do funcionamento social geral e desempenho escolar destacam-se o nível
cognitivo da criança, o grau de desenvolvimento na linguagem e o
desenvolvimento de habilidades adaptativas, como as de auto-cuidado.
34
A demora no processo de diagnóstico e aceitação é prejudicial ao
tratamento, uma vez que a identificação precoce deste transtorno global
do desenvolvimento permite um encaminhamento adequado e influencia
significativamente na evolução da criança.
Os atendimentos precoces e intensivos podem fazer uma diferença importante no prognóstico do autismo.
O quadro de autismo não é estático, alguns sintomas modificam-se,
outros podem amenizar-se e vir a desaparecer, porém novas
características poderão surgir com a evolução do indivíduo. É
aconselhável avaliações sistemáticas e periódicas.
Analise do Comportamento Aplicada (ABA)
Um dos tratamentos mais populares, eficazes e sem prejuízos é o
ABA. ABA é uma sigla que significa,
Applied Behaviour Analysis,
que em português significa, Análise do Comportamento Aplicada. Análise
do Comportamento Aplicada é uma área de pesquisa de novas tecnologias
embasadas na
psicologia comportamental,
sendo uma delas o tratamento do autismo. Essa eficácia levou a uma
legislação que obriga os serviços de saúde americanos, que utilizam
terapias baseadas em evidências, a disponibilizarem esse tratamento.
35
Dentre as técnicas da
terapia analítico-comportamental utilizadas incluem: Procedimentos de treino incidental, análises de tarefas,
encadeamento, tentativas instrucionais embutidas em atividades e treino de tentativas discretas.
36 Mais informações sobre o ABA
Picture Exchange Communication System (PECS)
Um recurso popular para ajudar no desenvolvimento da linguagem é o
PECS
(Picture Exchange Communication System), um sistema baseado em figuras
com figuras que refletem as necessidades e/ou o interesse individuais.
Este sistema facilita tanto a comunicação quanto a compreensão, quando
se estabelece a associação entre a atividade/símbolos.
37 Mais informações sobre o PECS
Método TEACCH
O método TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related
Communication Handicapped Children) é um técnica muito popular no mundo
que combina diferentes estímulos visuais e auditivos com o objetivo de
aperfeiçoar a linguagem, melhorar o aprendizado e reduzir comportamentos
inapropriados. Áreas, objetos, palavras, recipientes de cores
diferentes e a fala do terapeuta são utilizados para instruir as
crianças sobre suas atividades diárias de forma a emparelhar o símbolo
com o respectivo objeto, local ou atividade no mundo real. O
desenvolvimento da criança é avaliado regularmente pelo PEP-R
(Psychoeducational Profile-Revised) para verificar os resultados da
abordagem.
Mais informações sobre Teacch
Farmacoterapia
A farmacoterapia continua sendo componente importante em um programa
de tratamento, porém nem todos indivíduos necessitarão utilizar
medicamento. Medicamentos que atuam na
dopamina e na
serotonina
podem ajudar a reduzir alguns sintomas como redução de estereotipias,
retraimento social e comportamento agressivo ou auto-agressivo.
38 mais informações sobre medicamentos para autismo
Escola normal X Educação especial
Existem casos em que crianças com autismo em escola normal tiveram
melhor desenvolvimento de habilidades sociais do que as crianças em
escolas especiais, porém isso não ocorre na maioria dos casos. É
importante que cada caso seja tratado individualmente, focando nas
necessidades e potencialidades da criança. Existem inúmeras vantagens de
se levar a criança com autismo a conviver com aquelas sem
comprometimento e de estimular que ela aprenda com as outras por meio da
imitação, mas também não esquecer o risco de que ela seja vítima de
bullying dos colegas. Já na escola especial é provável que ela tenha uma
atenção especial de profissionais melhor treinados e conheçam outras
crianças com problemas semelhantes. Cabe aos pais decidirem qual a
melhor opção para seu filho.
30
Questões Polêmicas
Em 1999, o médico
Andrew Wakefield publicou o artigo
MMR vaccination and autism, estabelecendo uma suposta relação entre a
vacina tríplice e o autismo
39
. Diversos estudos médicos foram conduzidos desde então a fim de se
comprovar ou não essa relação, sendo que não houve evidências nesses
novos estudos acerca dessa hipótese. Em 2010, o Conselho Médico Geral
britânico (em inglês, General Medical Council) considerou que o dr.
Wakefield agiu de maneira antiética e desonesta ao vincular a vacina
tríplice ao autismo e cassou seu registro profissional no
Reino Unido em maio de 2010
40
. Ainda de acordo com o Conselho Médico Geral britânico, a sua conduta
trouxe má reputação à profissão médica depois que ele coletou amostras
de sangue de jovens na festa de aniversário de seu filho pagando-lhes
£5. Considera-se também que o
sarampo tenha ressurgido no
Reino Unido
devido ao receio dos pais em aplicarem a vacina trípice em seus filhos:
as taxas de vacinação nunca mais voltaram a subir e surtos da doença
tornaram-se comuns
41
. Boatos disseminados na internet acusam a influente indústria
farmacêutica de fazer lobby para "abafar" essa informação. Atualmente,
Wakefield prosegue com suas pesquisas nos
EUA.
Dez anos após a publicação do artigo o periódico publicou uma completa retratação
42 após as declarações do Conselho Médico Geral britânico.
Nos últimos dez anos uma dezena de pesquisas realizadas na tentativa
de encontrar uma correlação entre a vacina tríplice e autismo não
acharam nenhuma evidência que comprovasse os dados preliminares do
artigo de Wakefield.
43 . Várias famílias foram influenciadas pela polêmica criada pela mídia logo após a publicação do artigo de Wakefield e hoje, no
Reino Unido e nos
Estados Unidos,
doenças consideradas extintas devido a aplicação de vacinas regulares
voltaram a matar crianças em famílias que resolveram não vacinar seus
filhos
44 .
Ver também
Na ficção
Na ficção
Fonte : Wikipédia